MENINA
não houve tempo para anoitecer, tampouco te pude ver ainda uma vez
somente o ímpeto juvenil escorreu pelo chão ardente da rua ao lado
levando-te dos meus olhos quando tanto te tinha a dizer do que nunca te diria
uma ansiedade fragmentada espalhou-se na calçada e adentrou a estação
e um calculado descuido ao cruzar a avenida num sinal demoradamente vermelho
validou a tua eterna ausência na escura noite em que te escondi de mim
então agora aqui vens, exumando teu corpo intangível da algidez dos carris
como a melodia caótica que acompanha um romance prosaico e natimorto
e eu acolho-te na fuliginosa ebulição das eras e saudades estropiadas
tudo aconteceu, menina, num dia infinito, sem tempo para anoitecer
na rua ao lado escorrem pela sarjeta antigos ímpetos juvenis
e sem ouvires o que nunca te direi, adormeces em minha noite escura
J.C.Lopes
Sem comentários:
Enviar um comentário