18.8.25

 

TERRAS


                    "Deve o poeta não ter pouso, 
                       pois a terra sua é a língua,
                     ficção donde faz a realidade."
                                                    Jesen Jr.


talvez me disesses do tempo. diáfano viajor das paredes
a mim, que camuflava a minha ambiguidade

eu sei, dirias, se soubesses, dos prosaicos delírios que vivi
ora, tu, que buscavas sentidos no silêncio dos vernizes
tua voz e olhar ingénuo rompendo liames da razão

trama-nos, saibamos, o bailado da Terra
meridianos que ensombram sóis e luas
terras onde acreditamos primaveras e invernos

pouco nos resta, andarilho, na longitude da existência
senão brindarmos às almas, lá o que forem
guardiães da fantasia nos rastilhos da realidade


J.C.Lopes

   .                    .

16.8.25

VERTIGEM


chegaste assim, vestida em negro e cascata
(em qual insólita viuvez viverias?)
pareceu-me caminhares num tempo aprisionado
de onde apontavas uma bolha de memórias incompletas

eras tu, não por certo um torpor da consciência
(a quais involuntárias normas obedecerias?)
pareceu-me então que a saudade nos traía
pois só queria tocar agora a escuridão em ti

havia encanto e um aroma pachuli em teus cabelos 
(quando foi que me apartei das tuas vertigens?)
ocorreu-me o remorso por fugir ao mergulho em ti
no segundo em que o sonho faleceu na aspereza da noite

a manhã resvalou na solidão dos sentidos
(onde te encontrar entre brumas imponderáveis?)
tua breve epifania permaneceu indelével perfume
desenhando na memória a minha própria vertigem


J.C.Lopes