TERRAS
a mim, que camuflava a minha ambiguidade
eu sei, dirias, se soubesses, dos prosaicos delírios que vivi
ora, tu, que buscavas sentidos no silêncio dos vernizes
tua voz e olhar ingénuo rompendo liames da razão
TERRAS
VERTIGEM
chegaste assim, vestida em negro e cascata
(em qual insólita viuvez viverias?)
pareceu-me caminhares num tempo aprisionado
de onde apontavas uma bolha de memórias incompletas
eras tu, não por certo um torpor da consciência
(a quais involuntárias normas obedecerias?)
pareceu-me então que a saudade nos traía
pois só queria tocar agora a escuridão em ti
havia encanto e um aroma pachuli em teus cabelos
(quando foi que me apartei das tuas vertigens?)
ocorreu-me o remorso por fugir ao mergulho em ti
no segundo em que o sonho faleceu na aspereza da noite
a manhã resvalou na solidão dos sentidos
(onde te encontrar entre brumas imponderáveis?)
tua breve epifania permaneceu indelével perfume
desenhando na memória a minha própria vertigem
J.C.Lopes